Perturbações de Ansiedade

A Ansiedade é uma resposta adaptativa do nosso organismo, que tem aspetos positivos. Em situações sentidas como de perigo é desencadeado pelo corpo e pelo cérebro um mecanismo de luta, fuga ou bloqueio que está associado à ansiedade. A ansiedade ativa-nos e mantém-nos em alerta, gerando no nosso corpo um estado de vigília que nos prepara para reagir, e o nosso cérebro fica com uma maior agilidade de raciocínio. Caso estejamos demasiado relaxados em situações de maior tensão, não nos preparamos para a sua resolução.

A ansiedade torna-se um problema quando é demasiado intensa e prolongada no tempo, podendo desencadear perturbações, com implicações no organismo, na vida pessoal, familiar, social e profissional. Podemo-nos sentir ansiosos a maior parte do tempo sem nenhuma razão aparente, ou podemos ter ansiedade apenas às vezes, mas de uma forma intensa que nos pode imobilizar. Sendo a sensação de ansiedade tão desconfortável, deixamos de fazer coisas simples para a evitar, podendo fazer com que se perca uma boa parte da autoestima, deixando de parte atividades por nos sentirmos incapazes de as realizar.

Os sintomas que podem estar presentes são: preocupação frequente, pensamentos frequentes de perigo, sensação de incapacidade em lidar com as dificuldades, sensação de impotência, evitamento de lugares/situações onde pode ficar ansioso(a), nervosismo e agitação, irritabilidade, dificuldades de concentração, batimento cardíaco acelerado, sensação de falta de ar, respiração superficial/ofegante, dificuldade ao adormecer ou em dormir, tensão muscular, dores musculares e tremores, fadiga, dificuldade de engolir ou nó na garganta, tonturas, dores de cabeça, náuseas, diarreia ou problemas estomacais, calores ou calafrios e boca seca.

Situações como violência infantil, abusos, bullying, divórcios, quando vividos de forma intensa, são dificilmente ultrapassados sem deixar uma marca dessa dor e desse medo, tantas vezes sentidos. Estas emoções que não são ultrapassadas, ao longo do tempo vão corroendo a nossa vida, limitando-nos nas nossas escolhas e decisões, não nos permitindo viver em harmonia.

Nos momentos em que sentimos que a ansiedade nos controla, é importante compreender que estes medos foram desenvolvidos e mantidos ao longo do tempo, pela forma como lidamos com o mundo, com os outros e connosco próprios. No entanto, todos nós temos o direito e a capacidade de nos sentirmos bem, livres de amarras.

Como é que a PSICOTERAPIA pode ajudar?

A eficácia da psicoterapia está cientificamente provada no tratamento de perturbações de ansiedade, existindo várias abordagens que o/a podem ajudar nestes casos. A ansiedade é um problema mundialmente reconhecido como de saúde pública e quanto mais cedo iniciar psicoterapia, mais fácil e rápida será a recuperação.

Através da compreensão de quais os desencadeadores psicológicos de ansiedade, da identificação das causas da ansiedade e da exploração de estratégias para lidar melhor com os estados ansiosos, as possibilidades de reincidência vão diminuindo assim como também a intensidade.

As perturbações de ansiedade mais comuns são:

 

Perturbação de Ansiedade Generalizada
A Perturbação de Ansiedade Generalizada caracteriza-se por uma ansiedade constante e preocupação persistente e excessiva relativamente a várias áreas da vida, tal como o seu desempenho a nível pessoal, familiar, social, profissional e/ou escolar. A pessoa tem muita dificuldade em controlar os seus pensamentos e preocupações e existe uma grande irritabilidade, estando constantemente em alerta e em tensão, porque para ela, alguma coisa má pode acontecer a qualquer momento.

 

Perturbação de Pânico
A Perturbação de Pânico caracteriza-se pelo aparecimento de sintomas de ansiedade extrema de forma inesperada e recorrente e sem qualquer controlo. Quem sofre o primeiro episódio traumático tem a tendência em associar os sintomas às circunstâncias onde estava, começando a evitar essas situações/locais.

Os principais sintomas de quem tem um ataque de pânico são uma sensação de perda de controlo, uma sensação de como se estivesse a morrer, a ter um ataque de coração ou a enlouquecer. Como resultado, as pessoas ficam assustadas com a possibilidade de ter outro ataque. É este medo que leva ao desenvolvimento da perturbação de pânico. Esse medo faz com que os sintomas físicos e as antecipações catastróficas aumentem, e a pessoa torna-se receosa, em vigia constante, tentando antecipar os sinais de que um novo ataque irá acontecer.

A Perturbação de Pânico pode ser acompanhado por Agorafobia:
A Agorafobia caracteriza-se pela ansiedade intensa por estar em locais ou situações de onde a fuga ou o auxílio possam ser difíceis, na possibilidade de surgir um ataque de pânico. Em geral, a Agorafobia surge em situações como estar fora de casa sozinho, usar transportes públicos, estar no meio de uma multidão, permanecer em filas, ou encontrar-se sobre uma ponte. Assim, pelo receio de vir a ter novos ataques de pânico, várias situações são evitadas.

Existe também a antecipação de que as outras pessoas percebam os seus sinais de ansiedade, causando ainda mais desconforto. Muitas vezes, estas pessoas precisam de estar acompanhadas por quem confiam para fazer tarefas que antes fariam sozinhas. Quando isso acontece, há um aumento do sofrimento e da ansiedade.

 

Fobia específica
A Fobia Específica caracteriza-se por um medo excessivo e persistente de objetos e situações particulares. Há um receio intenso e irracional relativamente à presença ou antecipação desses objetos ou situações concretas, como animais, agulhas, ver sangue, andar de avião, espaços fechados, entre outros. Estas situações são evitadas ou encaradas com um intenso medo que é exagerado.

Apesar da maioria destas situações serem evitadas, quando a pessoa é confrontada com estes estímulos, é criado um intenso sofrimento. A situação fóbica pode não estar constantemente presente no nosso dia-a-dia e o evitar pode não criar limitações a uma autonomia saudável, contudo, existem muitas fobias que, pela frequência com que surgem, condicionam a nossa vida. Como consequência do evitamento, da antecipação ansiosa ou do sofrimento na situação fóbica, as rotinas são condicionadas e prejudicadas, causando dificuldades na vivência do seu dia-a-dia.

 

Timidez e Fobia Social
A Timidez deriva do medo da exposição perante outras pessoas e de falar em público. Este medo pode variar de intensidade, originando pessoas reservadas ou chegar até ao estado fóbico – Fobia Social.

A Fobia Social caracteriza-se por um medo acentuado e persistente de situações sociais ou de desempenho. O confronto ou a antecipação de uma situação social / desempenho provoca uma resposta imediata de ansiedade. Esta resposta pode assumir a forma de um Ataque de Pânico, existindo um reconhecimento pela pessoa de que o seu medo é excessivo ou irracional. Nas situações sociais ou de desempenho temidas, as pessoas com fobia social têm preocupações relativas ao seu embaraço e temem que outros as avaliem de forma negativa, bem como medo em demonstrar sintomas de ansiedade. Existe uma grande tendência da pessoa evitar os sintomas que lhe causam sofrimento e assim, evitar essas situações, criando um condicionamento na rotina diária, no funcionamento ocupacional ou na sua vida social.

Algumas das principais experiências traumatizantes que influenciam a pessoa a evitar as situações sociais são o bullying na escola, agressões na infância e na adolescência, críticas e pressões por parte de pais e educadores.

Os casos de fobia social podem originar o aparecimento de estados depressivos ainda mais limitantes, tal como a depressão, afastando a pessoa do contacto social.

 

Perturbação de Stress Pós-Traumático
A Perturbação de Stress Pós-Traumático é um problema de ansiedade que surge, como o próprio nome indica, depois de uma pessoa ter sido exposta a um acontecimento que constituiu um trauma psicológico. Essa exposição pode ter-se dado ao ter experienciado, testemunhado ou ter sabido de um acontecimento que envolve morte, ferimento grave, ou qualquer outra ameaça à integridade física própria, de familiares ou de pessoas próximas. O reviver do evento traumático dá-se por constantes recordações angustiantes do acontecimento, através de pensamentos, imagens ou pesadelos. Pode-se sentir que o evento traumático está a acontecer de novo, e a pessoa age como se o vivenciasse naquele instante, causando um intenso sofrimento psicológico acompanhado de ativação das reações fisiológicas. Na tentativa de evitar o reviver do trauma, a pessoa evita o que possa ativar as memórias do evento, como conversas sobre o tema, atividades, locais e pessoas que tragam recordações do trauma.

Os sintomas mais presentes são a ansiedade constante, insónias, irritabilidade ou ataques de raiva, dificuldade de concentração e hipervigilância.

 

Perturbação Obsessivo-Compulsiva
A Perturbação Obsessivo-Compulsiva caracteriza-se pela presença de dois fenómenos: as obsessões e as compulsões. Uma obsessão é um pensamento, imagem ou impulso, intrusivo, desagradável, repetitivo, inaceitável ou indesejado e que se mantém apesar de uma pessoa não os querer ter. As compulsões são comportamentos (ou mesmo fenómenos mentais) essencialmente repetitivos, vistos pela pessoa como excessivos ou exagerados, tais como limpar, verificar, contar, repetir palavras silenciosamente ou lavar as mãos.

O facto da obsessão aparecer (pensamento, imagem ou impulso) de forma intrusiva, sem se saber como nem porquê, de se manter e de estar presente no dia-a-dia da pessoa, de não desaparecer, mesmo com bastantes esforços nesse sentido, e a estranheza do seus conteúdos, origina um elevado desconforto e ansiedade e a pessoa procura fazer algo para reduzir e aliviar esse mal-estar. Surgem assim as compulsões, ou rituais compulsivos, que acabam por ajudar no controlo da ansiedade, mas de forma inadequada. Esses rituais (que podem consumir várias horas por dia) criam um enorme desgaste físico, emocional e intelectual. Em geral, a pessoa reconhece a irracionalidade da situação, mas esconde-se, evitando ser observada e criticada, ou organiza a sua rotina diária em função das obsessões, disfarçando o problema, apesar do sofrimento e mal-estar que isso lhe cria.

A perturbação obsessivo-compulsiva é profundamente limitadora da qualidade de vida, pode afetar significativamente a vida da pessoa, seja na área pessoal, laboral, doméstica, social ou, até, passar a ocupar o centro das suas preocupações.